Diga NÃO à violência doméstica

Ele matou a esposa e colocou seu corpo numa mala, e se enforcou após. Veja como o círculo da violência doméstica acontece e alerte seus familiares e amigos.

C. A. Ayres

O corpo da comissária de bordo da Azul Michelli Nogueira Arrabal foi encontrado dentro de uma mala embaixo de uma ponte, à margem do Rio Atibainha. Os policiais que a encontraram, identificaram o corpo e foram até sua residência. Chegando lá, acharam a família que havia encontrado o marido, Julio Arrabal, enforcado, e havia sinais de suicídio. Julio, principal suspeito do assassinato de Michelli que estavam juntos há 10 anos, estava envolvido com drogas, e familiares contam que ela havia ameaçado deixá-lo, já que ele já havia passado por várias clínicas de reabilitação, mas voltava ao vício e não parava em empregos. O rosto de Michelli estava machucado como se tivesse sido esmurrado, e policiais reportaram que ela havia sido asfixiada até a morte. Uma notícia triste que abalou todo o Brasil em março de 2015.

Neste outro artigo, falamos sobre o que é violência doméstica e suas várias formas, como a Lei Maria da Penha pode ajudar quem vive essa situação e como a violência pode ser denunciada.

O cônjuge violento também precisa de ajuda, mas é imprescindível que a vítima saiba reconhecer o perfil do agressor para que possa se precaver de sofrer violência doméstica, que pode ser emocional, física ou sexual. Para isso, entender como funciona o ciclo da violência pode evitar uma situação ou mesmo salvar uma vida.

Um exemplo: Um homem machuca fisicamente sua mulher numa briga. Após o acontecido, ele se sente culpado, com remorso, desculpa-se, promete que aquilo não se repetirá. A lua de mel se instala até que a mulher o desculpe. Após alguns dias, ele começa a encontrar defeitos no que ela faz ou é, diz que ela o provoca, demonstrando ciúmes excessivos, desconfiando de seus atos, explicando o porquê age daquela forma. As brigas se reiniciam, e podem conter ofensas, xingamentos que colocam a autoestima da mulher no chão. Nessa fase, ele diz que não vai machucá-la novamente e age ainda como arrependido, mas sem muito autocontrole. Um acontecimento qualquer no trabalho ou na família que o irrite é suficiente para que ele a culpe por qualquer coisinha, que na visão dele, “ele justificará seus atos violentos”, escalando para mais violência, e cada vez pior.

Veja o infográfico abaixo que exemplifica a informação que consiste o ciclo. Há grupos de suporte para mulheres e homens espalhados mundo afora para ajudá-los a entender como a violência acontece. Se você está passando por isso, ou não tem certeza se a sua situação constitui ou não violência doméstica, leia com atenção.

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Fase da Explosão

Abuso: Ele escala uma briga a partir de um detalhe sem importância, tentando mostrar “quem manda aqui”, usando ameaça, violência física ou sexual.

Fase da Reconciliação

Culpa: Depois de lhe machucar, ele se sente culpado, nem tanto sobre o que acabou de fazer, mas sobre a possibilidade de você contar a alguém ou ele ser punido por isso.

Desculpas: Ele racionaliza a situação e começa a colocar defeito nos seus atos.

Fase da Lua de Mel

Comportamento normal: O agressor faz tudo o que pode para ser visto como um cavalheiro, mima a pessoa e faz do clima uma verdadeira lua de mel. Ou seja, ganha novamente o controle e a esperança da vítima em achar que ele está mudando.

Intensificação da Tensão

Fantasia: Após algum tempo, lhe acusa de traição, age violentamente, podem conter gritos, desconfianças, uma verdadeira paranoia e ciúme sem motivo. Quase que planejando ou se desculpando como lhe agredirá novamente de forma a você não achar que ele o tenha feito.

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Nova ocorrência do abuso: A violência ocorre novamente, e ele cria uma situação onde pode justificar o porquê de seus atos.

A repetição das desculpas e o remorso bem como suas ações gentis entre um episódio de violência e outro podem reduzir a autoestima de uma mulher a zero e fazer com que ela tenha coragem de se livrar da situação é bem difícil. “Mas eu dependo dele”, “Ele paga as contas”, “Ele é nervoso, mas é boa pessoa”, “Ele é um animal, mas é carinhoso e bom pai” – esses são pensamentos corriqueiros e comuns das vítimas de abuso, às vezes por anos.

Preste atenção nestes sentimentos em relação ao seu parceiro:

  1. Você fica ansiosa para agradá-lo ou tem medo de dizer qualquer coisa que o “provoque”.

  2. Faz tudo o que ele quer para não contrariá-lo ou deixá-lo nervoso.

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  3. Sempre que pode checa o telefone dele ou os bolsos para ver o que ele está fazendo.

  4. Ele lhe liga durante o dia várias vezes para ver como você está e checar o que está fazendo.

  5. Seu parceiro tem um temperamento explosivo, ciumento ou possessivo.

  6. Depois de uma briga, você tenta esconder marcas pelo corpo, usando desculpas como se fossem acidentes.

  7. Pede aos filhos, se presenciaram o acontecido, que não contem a ninguém.

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  8. Você falta ao trabalho, escola, ou deixa de ir a eventos, sem ter uma explicação.

  9. Ele acha ruim que você converse com suas amigas ou familiares, mesmo por telefone.

  10. Raramente leva você em eventos ou ocasiões sociais onde seja vista com ele em público.

  11. Ele controla o total de quanto você gasta, cartões de crédito e uso do carro.

  12. Você tem autoestima baixa, depressão, baixa autoconfiança, além de pensamentos suicidas e infelicidade generalizada.

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Há muitos detalhes que denunciam uma personalidade agressiva. Tome muito cuidado para você não se transformar e destruir sua inocência e personalidade, agindo muitas vezes da mesma forma que seu agressor para “se defender”. Isso pode minar suas chances de se recuperar do abuso e a transformará numa pessoa amargurada e solitária, que fará uma generalização em relação aos homens, achando que todos são assim.

Se você está passando por isso ou conhece alguém que está passando por essa situação, não espere a situação escalar como aconteceu com a Maria da Penha e tantas outras mulheres que sofrem abuso. Denuncie. Proteja-se. Você merece uma vida digna, feliz e é mais forte do que pensa que é.

_Imagem de capa: Reprodução Facebook via O Dia – Ig.com.br

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C. A. Ayres

C. A. Ayres é mãe, esposa, escritora e fotógrafa, pós-graduada em Jornalismo, Psicologia/Psicanálise. Visite seu website.