Depois de filho com Síndrome de Down ser excluído de festa de aniversário, mãe escreve carta emocionante na internet

Ele foi o único da sala de 22 alunos a não ser convidado para a festa. Veja como essa mãe reagiu e qual foi o final da história.

Caroline Canazart

Apesar de vivermos em um mundo com tantas informações, o preconceito ainda faz vítimas e deixa feridas no coração de muita gente. Uma mãe canadense – Jennifer Engele – ganhou os noticiários do mundo depois de escrever uma carta pública e comovente aos pais de um colega de sala de seu filho, Sawyer. E sabe por qual motivo? O menino – que tem Síndrome de Down – foi o único de toda a classe a não ser convidado para a festa de aniversário da família em questão.

Jennifer é uma mãe que luta pelos direitos do filho e não pensou duas vezes em usar o episódio para chamar a atenção de todos sobre o comportamento de pessoas que não conseguem conviver com as diferenças. A carta publicada em uma rede social já foi compartilhada mais de nove mil vezes e tem milhares de comentários de pais e mães que se solidarizam com o acontecimento e que também relatam já ter vivido momentos parecidos.

Abaixo você pode ler na íntegra a carta escrita pela canadense:

“Olá,

Eu sei que não nos conhecemos direito, mas o meu filho Sawyer e o seu filho estão na mesma classe. Sei que o seu filho distribuiu recentemente convites para todos os colegas, exceto para o Sawyer, que não foi chamado. Também sei que isso não foi um descuido seu, mas uma decisão intencional de não incluir o meu filho.

Advertisement

Quero que você saiba que não temos a expectativa de ser convidados para todas as festas de aniversário. Na verdade, quando Sawyer celebrou o aniversário dele no ano passado, convidamos apenas alguns amigos mais próximos, já que queríamos um evento menor porque era época de Natal. Mas no seu caso, o motivo não era esse. Na verdade, você convidou todas as outras 22 crianças da sala, menos o meu filho. Sei que não é porque ele é mau, porque você não poderia conhecer uma criança mais feliz. Sei que não é porque ele não é engraçado, pois ele tem um ótimo senso de humor e uma risada contagiante. E sei que não é porque eles não se dão bem, porque Sawyer já mencionou o nome do seu filho várias vezes. O único motivo por que você achou que era ‘ok’ não convidar o meu filho é porque ele tem síndrome de Down.

Sinto muito por você não estar informado, talvez assustado ou em dúvida do que significa ter síndrome de Down. Sei que se você soubesse mais sobre a síndrome de Down não teria tomado essa decisão. Não estou brava com você. Ao contrário: acredito que essa é uma oportunidade para você conhecer o meu filho. Sabe, ter síndrome de Down não significa que você não quer ter amigos. Não significa que você não tem sentimentos. Não significa que você não gosta de ir a festas de aniversário. Pessoas com síndrome de Down querem as mesmas coisas que eu e você. Elas querem bons relacionamentos, elas querem sentir amor, elas querem contribuir, elas querem vidas com sentido e elas querem ir a festas de aniversário. Às vezes, pode ser mais difícil entender a minha criança. Mas a risada e o amor que compartilhamos não precisa de intepretação.

Saiba que eu era igual a você. Eu era assustada, insegura e desinformada sobre a síndrome de Down antes de ter o meu filho. Me preocupava que os meus outros filhos não pudessem se conectar com Sawyer da mesma forma que irmãos fazem. Mas eu estava errada. Na verdade, os meus filhos são mais próximos do que a maior parte dos irmãos. Ter um irmão com síndrome de Down ajudou a torná-los indivíduos compassivos, que sabem que é ‘ok’ ser um pouco diferente dos outros. Eles não têm medo de ajudar quando veem que alguém está passando por dificuldades. E eles não têm medo de se aproximar de uma pessoa que eles podem não compreender totalmente. Em retorno, eles recebem muito amor e alegria por ter o irmão deles como melhor amigo.

Talvez você esteja com dificuldade de falar com o seu filho porque ele não queria o meu filho no aniversário. Talvez você tenha deixado o seu filho decidir que era ‘ok’ excluir uma única pessoa. Sei que pode ser difícil ensinar para nossas crianças algo que nós mesmos não entendemos. Eu também luto contra isso. Mas essa é uma grande oportunidade e lição de vida para dar a uma criança. Elas vão lembrar da época em que os seus pais disseram ‘não é legal excluir alguém por causa da sua incapacidade, raça ou gênero’. Sei que você quer para o seu filho as mesmas coisas que eu quero para os meus. Como pais, queremos que nossos filhos sejam queridos, tenham amigos e não sejam deixados para trás. E a maneira de fazermos isso é dar o exemplo e encorajá-los a fazer escolhas que talvez eles ainda não tenham maturidade para compreender totalmente. Mas um dia eles vão olhar para trás com o entendimento e o conhecimento que dividimos com eles. Estou certa de que, com um pouco de encorajamento, o seu filho pode desenvolver uma amizade verdadeira com o meu filho e que isso vai deixar uma permanente e positiva impressão neles para o resto da vida.

Antes disso acontecer, eu não sabia que Sawyer não foi convidado para nenhum aniversário no último ano. As crianças estão chegando naquela idade em que elas convidam apenas alguns amiguinhos para as festas, mas ele ainda não está nessa fase. Outros pais de crianças com síndrome de Down que eu conheço costumam começar o ano letivo educando a classe, e eu não fiz isso. Ele sempre foi apenas o Sawyer para mim e nunca senti a necessidade de falar sobre a síndrome de Down com a sala dele até esse momento. Percebo agora que o deixei para baixo. Deixei passar um ano em que eu podia ter feito mais para educar as famílias. Talvez assim não estivéssemos nessa situação. Percebi que é minha obrigação como mãe dele educar as pessoas sobre o que significa ter síndrome de Down e como essas crianças são mais iguais a você do que diferentes. Agora sei o quanto é importante falar sobre isso e é algo que me comprometo a fazer melhor.

Advertisement

Por favor, saiba que estou aqui para conversar, se você quiser. Posso ser uma mãe urso, mas não sou uma pessoa assustadora. Reconheço que todos nós cometemos erros e que, no fim das contas, nós dois poderíamos ter sido melhores.

Obrigada,

Jennifer”

Depois do desabafo, o menino recebeu um convite “extra” para ir ao aniversário. De acordo com a mãe, ele ficou muito feliz. Jennifer também se sentiu grata por poder falar sobre o assunto e espera ter deixado as portas abertas para que outros pais conversem com os filhos sobre as diferenças. “Espero que isso ajude os pais a abrirem um diálogo com os filhos”, escreveu a mãe.

Toma un momento para compartir ...

Caroline Canazart

Caroline é uma jornalista catarinense que optou por ser mãe em tempo integral depois do nascimento dos filhos. Ama escrever e ainda acredita que pode mudar o mundo com isso.