Como desabafar de forma construtiva

Quando abre seu coração para expressar seu interior, convém prestar atenção a certos aspectos que façam deste desabafo algo saudável e produtivo.

Marilú Ochoa Méndez

Como já citado em vários artigos, o psicólogo norte americano John Gray, autor de “Homens são de Marte, mulheres são de Vênus”, diz que quando os homens se sentem sobrecarregados, necessitam ficar reclusos em sua “caverna” onde, então, podem processar seu mundo interno.

Já nós, mulheres, ao contrário, alcançamos a melhora do nosso interior ao expressarmos a um ouvido atento as emoções que nos perturbam, ajudando na sua reflexão.

Mas, desabafar, tirar nosso interior para fora e, assim, podermos vê-lo com maior clareza tem algumas arestas que é preciso detectar, para que a experiência seja construtiva e saudável. De outro modo, ao invés de converter-se em arejamento e força para nosso interior, pode contaminar e expor.

A seguir, desenvolveremos essas ideias para convidá-la a refletir e procurar a impecabilidade em suas palavras.

Por que temos necessidade de desabafar?

No livro “Os quatro acordos”, o doutro Miguel Ruiz nos lança este belo e importante convite: Seja impecável em suas palavras”. Com isso nos convida a considerar o valor das palavras. São importantes, já as palavras criam pensamentos, e os pensamentos atitudes e atitudes criam ações e reações que definem nossa vida.

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Qual seu objetivo ao compartilhar o que lhe acontece com um amigo ou amiga? Tirar de dentro de si as emoções para olhá-las e processá-las? Falar mal daqueles que acredita serem os responsáveis por sua vida miserável? Conseguir que essa pessoa se concentre em dar-lhe atenção?

Retificar a intenção

Repasse comigo, por favor, as perguntas do parágrafo anterior e revisemos juntas qual das propostas realmente curaria seu interior.

Na primeira: tirar de dentro de si as emoções para olhar de fora o que a magoa ou inquieta e unicamente expor.

Na segunda: falar mal dos que a perturbam, você está tirando para fora seu mundo interior, mas o contaminando enquanto o exterioriza, elaborando de antemão um juízo que lhe impedirá (e também ao seu interlocutor) ver claramente.

Na terceira, você não está concentrando em si mesma, mas na pessoa que a escuta. Você valoriza receber apreço e atenção, e talvez isso nuble sua intenção de analisar-se a fundo.

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Utilizar as palavras sadiamente

A “impecabilidade” das palavras me parece um conceito belíssimo. Podem ser elas que nos mantenham fechadas na autocompaixão, no desânimo, na incompreensão ou no ressentimento.

No processo de desabafar é valiosíssimo dar-nos a oportunidade de observar-nos e observar o uso que damos a nossas palavras.

Convido você a revisar os verbos que utiliza: “me sinto”, “me fizeram”, “sou responsável”, “não consigo”, são alguns exemplos.

É útil soltar o que trazemos na alma, mas será também útil observar como vemos o que nos acontece, assim poderemos olhá-lo com equanimidade.

Fique atenta a quem dá a chave

Você está a ponto de abrir seu interior e o interior dos que a cercam a alguém de fora. Em certa ocasião, escutei uma frase preciosa: devemos entrar descalços no interior de outro ser, porque é terreno sagrado. Isso me encantou!

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Quem você deixará entrar nesse seu mundo? Essa pessoa ouvirá suas confidências de forma amorosa e compassiva? Vai lhe ajudar a ser melhor? Tomará alguma atitude de represália contra você ou contra os que lhe rodeiam a partir daquilo que escutou de seus lábios?

É muito importante ter cuidado neste sentido, porque se não nos cuidarmos nesse sentido, quem o fará?

É possível desabafar com você mesma

É verdade! Também se pode escrever cartas, tirar de dentro o que dói e expressá-lo em letras e palavras em uma folha de papel. Aí poderá ver refletido seu interior sem contenções nem tabus, e isso a ajudará a ver a si mesma de forma mais integral.

Este desabafo no papel pode complementar o diálogo com as amigas e pessoas compassivas que você busca para que a ajudem a crescer com mais estrutura e firmeza.

Sua intimidade é um tesouro

Hoje em dia, a intimidade está devassada. Vemos continuamente como artistas, influencers, desportistas e outros mais, expõem seus problemas, discussões e às vezes até seus encontros íntimos ou seus corpos em redes sociais ou na televisão.

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Muitos o fazem para serem vistos, pensando que, desta forma, valem mais ou são mais apreciados, esquecendo-se de que todos necessitamos de um espaço pessoal inviolável e sagrado no qual guardamos nossos pensamentos e desejos íntimos, nossas lembranças.

Esta situação acaba por nos despersonalizar, nos coisificando, porque se esquece que cada um é diferente, especial e único e que o destaque pelo escândalo, pelo ruído ou pelo atrativo físico nunca mostra nossa essência.

Somos muito mais que nossos corpos, muitas mais que nossa aparência ou nossa produtividade. Esse é o risco que corremos quando falamos demais sobre nós mesmos, podemos nos tornar mercadorias e promover que nos vejam como algo agradável ou atrativo em vez de como alguém.

Dicas para preservar nossa intimidade

1 Se reconheça como valiosa, única e portadora de grande valor.

2 Seus pensamentos, desejos internos, sonhos e esperanças são únicos e válidos, reconheça seu potencial escutando-os.

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3 Ensine a seus filhos que a intimidade é um grande valor, que é um espaço pessoal que precisa ser protegido e reconhecido.

4 Reflita sobre esta bela frase: “Você nunca terá a parte mais íntima de uma mulher enquanto a desnuda, você a terá enquanto a escuta. Você terá a parte mais íntima de uma mulher quando tocar um ponto que nunca, ninguém mais, tenha tocado: sua alma”.

Com muito carinho, desejamos a você que sempre quem tocar sua alma esteja ciente do privilégio que lhe é concedido.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Cómo desahogarnos constructivamente

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Marilú Ochoa Méndez

Enamorada de la familia como espacio de crecimiento humano, maestra apasionada, orgullosa esposa, y madre de seis niños que alegran sus días. Ama leer, la buena música, y escribir, para compartir sus luchas y aprendizajes y crecer contigo.